Feminicídio, suicídio e a condição humana
- Dra. Ticiana Paiva
- 10 de jan. de 2020
- 2 min de leitura
Ainda no clima natalino e de abertura do novo ano, Campinas-SP foi tomada por uma notícia devastadora que dialoga com tudo o que estamos tratando sobre sofrimentos extremos. Um homem assassinou a ex-namorada e em seguida tirou a própria vida.
Os dados revelam: mulheres fazem 4 vezes mais tentativas de suicídio, contudo, os homens morrem 4 vezes mais por suicídio, segundo a OMS (Organização Mundial da Saúde). O que podemos compreender dessas estatísticas?

O primeiro ponto é que os homens são mais letais contra si mesmo, isso é, os meios que utilizam para tentar o suicídio são mais nocivos. Porém, há um outro fator que precisamos considerar em seu lugar: o contexto sóciocultural.
Estar diante dessa brutalidade me remeteu à reflexão de que estamos perante a uma intensa falta de resiliência e aceitação da finitude das relações. Quando a falta de flexibilidade de si mesmo vai ao encontro com uma cultura que não permite a expressão da fragilidade, dos medos e dificuldades, aliado ao sentimento de posse do outro, temos uma combinação potencialmente violenta contra o outro e a si mesmo. Afinal, “menino não chora”!
Contudo, esse fenômeno não pode ser visto apenas pelas lentes dos fatores sociais. O fenômeno da violência contra uma outra pessoa e a si mesmo, nesse caso se tratando do suicídio, requer ultrapassar explicações rasas para alcançar a inerência da complexa condição humana.
O risco de suicídio se relaciona com diversos fatores. A vulnerabilidade psicológica, que seria: história de vida da pessoa; Personalidade; Ausência dos fatores de proteção: suporte social, flexibilidade cognitiva, capacidade de pedir ajuda; além dos grupos vulneráveis que não se sentem pertencentes e aceitos: imigrantes e refugiados, indígenas, LGBTQI, negros.
A cultura e os marcadores sociais têm seu lugar na compreensão do fenômeno do suicídio e qualquer tentativa de isolar e fragmentar qualquer um deles é falha. Quando estamos frente a uma pessoa com ideação suicida, qualquer explicação fragmentada e simplista é desonesta e ineficiente na atuação prática.
Comments