O que vive um plantonista?
- Dra. Ticiana Paiva
- 17 de dez. de 2019
- 2 min de leitura
O Plantão Psicológico é um modalidade de atendimento às crises emocionais. Eu pesquiso e atuo nesse tipo de projeto desde 2006 e tenho mais de 8 equipes de plantonistas já formadas.
Trago aqui um trecho da minha dissertação de mestrado para você entender o que vive um plantonista. Althea (nome fictício) era a estagiária de psicologia que eu acompanhava para pesquisa.

"Nossa tão aguardada cliente chega. Mulher franzina, de rosto marcado, talvez pela pobreza, talvez pela dor. Começa a contar sua história de sofrimento e do reconhecimento da fuga através do álcool. Althea acompanha toda a narração, desenhando um diálogo com a cliente. Era como se ela, entrando nessa morada escura, buscasse as mãos da cliente e a ajudasse a se reconhecer, a se autodesvendar. Tateamos no escuro, luzes sendo acesas com muito cuidado, sem pressa. Relatos permeados de solidão e dor. Quase posso sentir o gosto do álcool na boca. A bebida ajuda a esquecer a dor pela falta da mãe e ilude uma vida sem sentido. Althea, com aquela expressão que conheço tão bem, corpo inclinado à frente, braços apoiados nas pernas, olhar de cuidado, de carinho, doa-se inteira à função de ouvinte atenta, deixando sangrar aquelas feridas inflamadas, na tentativa de aliviar a dor e a pressão que a atormentavam. Ao final da sessão, percebo Althea mudando de posição, como quem se ajeita na poltrona. Mostra-se incomodada, algo a perturba. Começa a se engasgar e a tossir. Sai da morada da cliente para se recompor. Levanta, pega uma garrafinha com água que estava sobre a mesa. — Tici, quer falar alguma coisa? Eu não queria. Sentia que tudo que era para ser feito já o havia sido. Eu não acompanharia a cliente de nenhuma outra forma. Althea saía-se com maestria. Intervalo. Althea vai deixar a cliente lá fora e eu pego meu caderno de anotações. Na volta, Althea deseja saber o que achei. Conversamos ao calor da empolgação. Sinto a energia, a satisfação do trabalho feito com amor" (VASCONCELOS, 2009, p. 78-79)
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